| "Um dia - era 30 de setembro de 1853, por volta do meio-dia, a campainha tocou..." Marie Shumann correu para abrir. À porta da casa, havia um jovem homem louro, imberbe, "belo como o dia", disse ela, de rosto fino. Com uma voz fraca, tímida, pediu para falar com Clara e Robert. Marie respondeu que seus pais não estavam, que era para ele voltar no dia seguinte às onze, para encontrá-los antes do passeio. Ele voltou no dia seguinte, por volta das onze. Schumann abriu-lhe a porta. Era um músico, como os muitos que vinham ver o "mestre", com suas composições debaixo do braço, na maior parte das vezes manuscritas. Este tinha uma carta de apresentação de Josef Joachim. Estava voltando de uma estada em casa de Wasielewski, em Bonn, e conhecera Ferdinand Hiller em Colônia. Disse que se chamava Johannes Brahms, era originário de Hamburgo, tinha vinte anos, e só. Tinha um aspecto infantil. Como era tão pouco loquaz quanto Robert, o melhor era pôr-se ao piano e tocar suas composições. Começou: primeiro movimento de uma sonata em Dó maior. Alguns compassos. Teve que parar imediatamente, porque Robert Shumann levantou-se, preso de uma espécie de grande agitação, uma alegria incontida. Disse que precisava chamar sua mulher. Saiu correndo. Gritou: "Clara! Clara! Você vai ouvir uma música como nunca ouvira antes!" Clara chegou. O adolescente de Hamburgo recomeçou, tocando ele próprio a sua primeira obra em presença da maior virtuose alemã de seu tempo e em presença de Schumann, que a música comovera, porque reconhecera nela os ecos da sua própria mitologia: E. T. A. Hoffmann, Jean-Paul. Primeiro movimento, segundo e terceiro movimentos, e os Schumann estavam extasiados de alegria, emocionados, maravilhados. Não houve passeio naquele meio-dia. Johannes Brahms tocou. Ficou para almoçar. De tarde tocou. Clara tocou. De noite, Shumann escreveu em seu livro-razão esta nota lacônica: "1º de outubro: Brahms em visita (um gênio)."
Enviado por Paulo Afonso Costa Pereira - Manaus - AM
Transcrição de um texto do livro CLARA SCHUMANN, de Catherine Lépront - Páginas 125 e 126. |