| "11 de novembro de 1620 - É assinado o Pacto do Mayflower, primeiro documento governamental da colônia de Plymouth. Foi escrito pelos Peregrinos que cruzaram o Atlântico a bordo do Mayflower e assinado por 41 dos 101 passageiros, no local hoje conhecido como baía de Provincetown, próximo ao Cabo Cod.
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OS COLONIZADORES DE PLYMOUTH - NOVA INGLATERRA
Muito ao norte das colônias da baía de Chesapeake, um tipo diferente de colonização inglesa ocorria nas costas menos hospitaleiras da Nova Inglaterra. As colônias da Nova Inglaterra constituíam consequências diretas do recrudescimento do conflito religioso na Inglaterra. Os protestantes mais convictos nunca haviam se sentido satisfeitos com a Reforma moderada institucionalizada pela Igreja da Inglaterra. Dando a si mesmos o nome de puritanos, queriam livrar a Igreja inglesa de práticas católicas romanas e "purificá-la" mediante eliminação da hierarquia de bispos e da simplificação do ritual.
Os puritanos compartilhavam com os anglicanos as doutrinas de predestinação do clérigo suíço João Calvino: um senso aguçado de inescrutável soberania e bondade de Deus e o reconhecimento da dependência total da humanidade depravada da graça divina para alcançar a salvação. Os puritanos esforçavam-se para viver rigorosamente de acordo com a vontade de Deus e criar uma comunidade que tivesse como modelo a dos cristãos primitivos.
A sagacidade da rainha Elizabeth impedira que o crescente espírito puritano causasse problemas durante o seu reinado. Seus sucessores, os monarcas Stuart Jaime I (1603-1625) e Carlos I (1625-1649), porém, estimularam o conflito. Rudemente, Jaime disse aos puritanos que ou eles se conformavam aos usos da Igreja da Inglaterra ou seriam "expulsos da terra". Seu filho, Carlos, casou com uma princesa francesa católica e apoiou medidas para impor a conformidade religiosa.
Anteriormente, Jaime expulsara da Inglaterra um pequeno grupo de puritanos radicais, que se refugiaram na Holanda. Eram chamados de separatistas porque queriam separar-se de fato da Igreja da Inglaterra, e não apenas purificá-la. Embora pudessem praticar o culto da maneira como desejavam, após alguns anos na Holanda esses peregrinos, a fim de preservar sua própria identidade, voltaram os olhos para a América. Com apoio de um grupo de mercadores londrinos, eles e novos recrutas chegados da Inglaterra, totalizando 101 homens e mulheres (87 deles separatistas ou membros de famílias separatistas), partiram para a Virgínia a bordo do Mayflower em setembro de 1620.
A navegação medíocre levou-os à costa americana em Cape Cod, ao norte do território da companhia e, de preferência a enfrentar mais tempestades de inverno no Atlântico, estabeleceram-se nas proximidades do povoado de Plymouth. Metade desse grupo mal preparado morreu de doenças e desnutrição no primeiro inverno. Os peregrinos restantes foram poupados da mesma sorte principalmente por causa do aparecimento oportuno de Squanto, um índio amigo que falava inglês, por ter passado algum tempo na Inglaterra depois de ser sequestrado pelo comandante de um navio. Ensinou-lhes como pescar e plantar milho.
Por isso, a Plymouth Plantation resistiu, embora não crescesse rapidamente, como uma "doce comunhão" de almas simples e pias, e ganhou precariamente a vida com o que o solo pobre da Nova Inglaterra podia produzir e com o comércio de peixes e peles. Primeira comunidade inglesa na Nova Inglaterra, ela logo depois foi superada e finalmente absorvida (1691) pela maior e mais próspera colônia puritana de Massachusetts Bay.
Seu lugar na imaginação norte-americana, porém, foi assegurado pela eloquente história, "Of Plymouth Plantation", deixada por seu governador por muito tempo, William Bradford, e pelo primeiro Dia de Ação de Graças, cuja primeira celebração coincidiu com a primeira colheita na nova colônia. E de não menor importância, o primeiro povoado permanente da Nova Inglaterra é lembrado pelo Pacto do Mayflower.
Essa primeira "constituição" norte-americana foi um acordo de autogoverno, inspirado por idéias puritanas radicais sobre o governo da Igreja. Quarenta e um homens, todos adultos, assinaram-no a bordo do navio antes de desembarcarem em Cape Cod. De acordo com seus termos, os colonos formavam um "corpo político civil", que governaria a todos segundo a vontade da maioria e prometia "toda a devida submissão e obediência" a "leis justas e iguais" da colônia.
Por mais estranhos que os ideais puritanos possam parecer a gerações mais novas, a iniciativa de fundar uma comunidade sagrada constituiu, sem dúvida alguma, um dos sonhos mais nobres da humanidade. Se aceitarmos as premissas puritanas de que Deus é soberano, que o dever fundamental de cada homem é cumprir a Sua vontade e que a grande questão na vida é se o homem recebe ou não a graça, ou salvação, de Deus, é difícil resistir à conclusão de que a sociedade deve ser construída segundo um plano divino para a redenção humana.
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FONTE: "Uma reavaliação da história dos Estados Unidos - de colônia a potência imperial", por Charles Sellers *, Henry May * e Neil R. McMillen **. 6a. edição. Jorge Zahar Editor, 1985. Título Original: "A Synopsis of American History".
* Universidade da Califórnia, Berkeley
** Universidade do Mississipi do Sul

ARTE: "A Prece dos Peregrinos Antes do Embarque" - Robert Walter Weir (1803 - 1889)"
Pesquisa: Luiza Voigt
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